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O Jardim e a Casa (e a Polêmica)


         O Japão, país que se aflige com as duras exigências da natureza e geografia de seu território, tem no pensamento da vanguarda Metabolista forte influência e apoio. O arquiteto Ryue Nishizawa, conhecido por seu trabalho com Kazuyo Sejima no escritório SANAA, sabe da importância de ousar e desafiar a natureza de seu país. Um de seus projetos mais recentes, uma casa em um terreno estreito de Tóquio, levanta questões importantes.
         Embora os japoneses sejam conhecidos pela timidez e introspecção, a arquitetura contemporânea no arquipélago tem se mostrado divergente: minimalista, transparente e desafiadora (por vezes em exagero).


         Uma crítica ecoa pelos corredores das faculdades e fóruns na internet: a arquitetura contemporânea japonesa não tem diversidade. No geral, são edifícios brancos e minimalistas. Será?


         Entre dois edifícios altos em Tóquio, se ergue uma casa com cinco pavimentos, apertada na malha urbana adensada da capital nipônica. A proposta de Ryue Nishizawa é simples: todos os cinco níveis da casa tem seu próprio jardim, cuja função, além de todos os benefícios que o jardim traz, é levar privacidade e servir de interface entre público e privado (similar à proposta da Casa N, do arquiteto Sou Fujimoto).


Detalhe para a terra que cobre uma das varandas jardim.

        Os esbeltos pilares metálicos travam as cinco lajes de concreto, com paisagismo que "transborda" até mesmo para outros pavimentos (através de aberturas nos pisos das varandas). Devido ao terreno estreito, com apenas quatro metros de largura, não existem paredes de alvenaria fechando os ambientes. Ao invés de paredes, todos os ambientes são fechados por panos de vidro e integrados ao máximo, dependendo totalmente da distribuição programática nos cinco pisos.



         As portas são raras: sobe-se a escada metálica que fura as cinco lajes e chega-se diretamente ao cômodo desejado, inclusive nos dormitórios, cuja privacidade interna se dá por cortinas.


         Como será viver em uma casa assim? Essa casa, e algumas outras, são representantes fortes da crítica que se faz à arquitetura japonesa de hoje. Será que a distribuição do programa de necessidades funciona? O fato de ter que subir dois ou três andares para ir de um cômodo a outro, os finos guarda corpos, rasgos nas lajes...será que o ser humano deveria ocupar um terreno tão pequeno em tais situações?



         Opinião sobre o projeto, traduzido dos comentários do site Dezeen, escrita pelo usuário Julien (link nas referências ao final do post):

         "Não faz parte do por que o SANAA nos intriga, a maneira como seus edifícios parecem existir em um mundo completamente diferente, livre de todas as regras que encontramos em nossa rotina?
         Em uma cidade de invernos rigorosos, eles constantemente forçam as pessoas a viver em suas casas mais ou menos fora. Corrimãos, luz para fazer as plantas crescerem e privacidade são opcionais. É difícil imaginar que um edifício assim, que parece estar bloqueando um grande número de janelas existentes, possa ser construído no mundo que conhecemos. E ainda assim, aí está ele.
         Parece um projeto desenvolvido na faculdade de arquitetura que de alguma maneira tornou-se real, sem compromisso. Uma maquete explodida em tamanho real. Ele confunde e excita. Nos faz pensar no tipo de pessoas que poderiam viver nele, que arriscariam suas vidas subindo até a cobertura, para se aquecer no sistema de ar condicionado."


A Casa Jardim de Ryue Nishizawa pode ser linda. Mas pode também ser fatal.

Referências:
Todas as fotografias são do incrível Iwan Baan.

Comentários

  1. Sou totalmente leiga no assunto Arquiterura, mas sou grande admiradora do assunto, principalmente da arquitetura moderna. Entre a casa jardim e o palácio versailles, eu juro que prefiro morar na casa jardim. É um assunto realmente polêmico e só alguém que morou numa casa como esta poderá fazer uma crítica confiável.
    Linda e curiosa. Adorei a comparação que a revista Dezeen fez: "Uma maquete explodida em tamanho real".
    Com certeza é uma casa que transformaria todas as formas de vida e a comodidade contemporânea. Mas é algo que realmente me atrai.

    Ótimo post!!
    Xoxo, Cora.

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    Respostas
    1. Agradecemos o elogio Cora.
      Realmente, existem casas que questionam nossa forma de vida e comodidade. Se você gostou desse projeto, recomendamos a você um post nosso do ano passado, que explora assunto similar:
      http://comover-arq.blogspot.com.br/2012/01/casa-como-laboratorio.html

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  2. Ah sei lá se é tão criticável assim.... uma casa pra mim deve atender as necessidades de quem ali vai viver... se o edifício em questão ou os rumos da arquitetura japonesa suprem as necessidades de bem estar e qualidade de vida de seu povo, acredito que estão no caminho certo sim... não é o tipo de habitação que eu culturalmente prefiro, mas deve ter seus admiradores senão não existiria...

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