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Habitação 1/2: 3 casas antigas

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Villa Savoye - 1929

         Quando a família Savoye procurou Le Corbusier para que o franco-suíço projetasse sua casa numa pequena comunidade fora de Paris, talvez eles não imaginassem que seriam cobaias de uma “Máquina de Morar”.
         O termo entre aspas é justamente a maneira que Corbusier lidava com a Arquitetura e Urbanismo. O Século XX deveria deixar de lado uma arquitetura de estilos, onde o papel do arquiteto era o de montar um quebra-cabeças, arranjando os estilos e combinando-os no que se chama de Ecletismo na Arquitetura.
         É fato que a Engenharia lidava com as novas questões e tecnologias melhor do que aqueles a quem a profissão era destinada. No final do Século XIX, estruturas de aço que desafiavam grandes distâncias e alturas maximizavam o papel de engenheiros como Gustave Eiffel, e minimizavam o papel do arquiteto como simples decorador de fachadas, já que o método construtivo arquitetônico havia parado no tempo, com as mesmas paredes espessas que estruturavam os edifícios e limitavam a imaginação a modelos estabelecidos.
         Depois de movimentos artísticos e arquitetônicos borbulharem por toda a Europa no começo do Século XX, a Arquitetura Moderna se firma, tendo como um de seus principais pensadores Le Corbusier.


         A Villa Savouye é o perfeito exemplo daquilo que Le Corbusier explicava como “os cinco pontos da Arquitetura”:
         1. Planta Livre: através de uma estrutura independente, permite a livre locação das paredes, já que estas não exercem mais a função estrutural;
         2. Fachada Livre: igual à independência da estrutura, a fachada pode ser projetada sem impedimentos;
         3. Pilotis: pilares que elevam o prédio do chão, que permitem o trânsito por debaixo do mesmo;
         4. Terraço Jardim: recuperação do espaço ocupado pela edificação, transferindo-o para cima do prédio na forma de jardim, entendendo a cobertura também como uma fachada;
         5. Janelas em Banda: possibilitada pela fachada livre, permite uma relação desimpedida com a paisagem.

         Neste projeto, Corbusier conseguiu ilustrar suas principais idéias, tanto plásticas quanto programáticas.
         Nem tudo são rosas é claro. Embora a espacialidade da casa fosse revolucionária, alguns problemas técnicos surgiram. A casa foi vítima de infiltrações e outros problemas derivados das intempéries, devido ao pouco domínio ainda de certas técnicas de construção, principalmente da impermeabilização do terraço jardim.
         A solução da planta, embora livre estruturalmente, ainda era presa aos costumes da família nuclear e conceitos de “áreas” dentro da casa. Essas características não tiram nada do brilho desse marco da Arquitetura do Século XX.
         A horizontalidade se faz extremamente presente, fisicamente desafiando a gravidade, convidando o olhar a recortar novos horizontes.



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Fallingwater - 1939

         A horizontalidade se faz ainda mais presente neste belíssimo projeto do norte-americano Frank Lloyd Wright. Diferente da Villa Savoye, que pousa sobre um terreno e apenas faz sugestões de seu contexto (presenteando o olhar com recortes horizontais do entorno), a Casa da Cascata parece pertencer a seu terreno de maneira tão singular, que é como se lá sempre tivesse estado...desde o primeiro brilho do sol.
         A família Kaufmann havia contratado o arquiteto para projetar uma nova residência num terreno privilegiado à beira de um riacho num bosque belíssimo com vista para uma cascata.
Wright aproveitou a oportunidade. Quando a família viu o projeto ficou impressionada. A casa não possuía vista alguma para a cascata...ela avançava em balanço sobre a cascata, de maneira que era possível ouvi-la mas não vê-la.
         Dessa maneira, a Fallingwater integrava-se de tal maneira com a natureza de seu contexto que o ambiente natural e construído pelo homem tornam-se um, possibilitando encontros antes impensáveis.


         Claro, assim como na Villa Savoye, nem tudo é perfeito. A casa sofre com problemas estruturais devido às limitações técnicas dos materiais utilizados em sua construção. A constante presença da água exige que a casa passe por constantes manutenções.
         Uma curiosidade é que a família Kaufmann de vez em quando tinha que dormir na sala da residência devido a um problema de ventilação que tornava outros cômodos muito abafados durante os meses mais quentes na região de Mill Run, Pennsylvania.



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Farnsworth - 1951

         Construída como um refugio de final de semana para a família de Edith Farnsworth, num bosque próximo a Chicago, a casa projetada pelo arquiteto alemão Mies van der Rohe transborda simplicidade.
         Assim como a Villa Savoye exemplificava os preceitos de Corbusier, a casa Farnsworth é uma manifestação física da visão deste arquiteto que adotou os Estados Unidos como quartel general após sua fuga da Alemanha de Hitler.
         Com o conceito da forte relação entre a casa e natureza próxima, a residência de pavimento único é estruturada por oito colunas perfil
I, que suportam as lajes de piso e cobertura. Entre os dois planos horizontais, a casa é revestida com janelas totais do chão ao teto, abrindo completamente a vista para os bosques e rio próximos.


         Com exceção de paredes que fecham os banheiros no centro da casa, o restante da planta é livre, já que a casa estrutura-se totalmente por seus pilares externos e caixilharia.
         Mies eleva completamente a casa do terreno, possibilitando que apenas as colunas toquem a terra.
         Além de alguns problemas com ventilação e entrada de luz no verão (algo que nem as cortinas poderiam impedir), o rio próximo sofre períodos de grande cheia em determinadas épocas, o que se transforma em alagamentos. O arquiteto previu esse dado no projeto, calculando a elevação da residência até uma altura considerada segura.


         Porém nem Mies van der Rohe poderia prever na década de 1950 os estragos ambientais do desenvolvimento acelerado da cidade de Chicago, bem como seu impacto no meio ambiente. Por conta disto, a casa já sofreu 6 inundações desde o período de sua construção, o último recentemente, em 2008.
         Poucas obras feitas pelo homem resumem de maneira tão singular a famosa frase “Menos é Mais” (Less is More).


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         Justamente por exprimirem de maneira física os preceitos e idéias de seus respectivos arquitetos, essas 3 casas antigas são a chave para se entender melhor o impacto que o Movimento Moderno teve em nossa sociedade contemporânea.
         Continua em:
         Habitação 2/2: 3 casas novas

Mais imagens e informações-
Villa Savoye:
Fallingwater
Farnsworth

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