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Dessau Bauhaus e a questão da Transparência Literal [e uma breve introdução sobre a Transparência Fenomenal]


"invocou a quarta dimensão... em um sentido mais metafórico que matemático"
Alfred Barr, Picasso: Fifty Years of His Art, Nova York, 1946, p. 68.
Tradução dos autores.

         Quando o novo edifício sede da escola Bauhaus foi inaugurado na cidade de Dessau, Alemanha, numa noite de 1926, os presentes puderam observar as luzes se acenderem dentro de uma massa, até aquele momento, escura e opaca. A visão foi descrita por um dos alunos: "o grande edifício deixa uma impressão especial quase inesquecível à noite, quando todas as luzes das salas são acesas, como no dia da inauguração, formando cubos invisíveis circunscritos pela moldura de metal de sua casca externa".


         O arquiteto Walter Gropius, diretor responsável pela Bauhaus e autor do projeto, não queria apenas um lugar para sua escola recém saída de Weimar. Gropius queria uma manifestação física dos principios e filosofias da escola, que buscava aliar indústria e artefato, no que hoje conhecemos como Design.

Representação da solução da divisão do programa.
Amarelo: Escola Técnica / Azul: Departamento Administrativo / Vermelho: Ateliês e Academia de Arte / Laranja: Área Coletiva, Anfiteatro e Refeitório / Verde: Habitação para Estudantes
(representação retirada do programa de tv "Architecture! Dessau Bauhaus", Richard Copans)

         O edifício da Bauhaus não é fácil de se compreender numa primeira experiência. É preciso vivencia-lo para compreender e absorver sua simplicidade latente em complexidade.
         Dos céus é possível compreende-lo completamente. Uma vista total revela sua geometria. Do chão porém, não há uma hierarquia de fachadas ou entradas definidas. A própria entrada "principal" da escola parece negar a si mesma.


         Entretanto, um dos volumes que compõe a escola se destaca dos outros. O bloco de ateliês e academia de artes possuí um elemento que Gropius já havia ensaiado em outros projetos: a cortina de vidro.

Fábrica Fagus (1911) - Ensaio da cortina de vidro. Desmaterialização das paredes exteriores.

No bloco de ateliês da Bauhaus, no lado direito da foto, a cortina de vidro: contradição das dimensões espaciais. O fechamento abre.

         Colin Rowe e Robert Slutzky vão dizer no texto "Transparência: Literal e Fenomenal", que a cortina de vidro da Bauhaus é de tema comum do Cubismo. Assim como nos quadros de Picasso, os planos emolduram transparências. A secção desses planos geram profundidade. Caímos então na questão do infinito, fruto da 4ª dimensão tão explorada pelo Cubismo: a percepção simultânea de locações distintas.
         Ver o interior e exterior do edifício da Bauhaus ao mesmo tempo, causa, de acordo com Rowe e Slutzky, a sensação da experimentação implícita e explícita.


         Considerando que Transparência é então uma condição (a material, de ser permeável à luz), Transparência Literal pode ser definida como a percepção simultânea de locações distintas, através da condição da materialidade.


         Outro conceito abordado por Colin Rowe é o da Transparência Fenomenal, este mais complexo, que merece um post especial. A base para entende-lo está nesse pequeno estudo e leitura apresentada.


Referências
- ROWE, Colin, com Robert Slutzky, \"Transparency: Literal and Phenomenal\", in \"The Mathematics of the Ideal Villa and Other Essays\", The MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 11ª edicão, 1997, páginas 159 a 183
- Vídeo do programa de tv francês Architecture! Dessau Bauhaus, de Richard Copans. O vídeo foi acessado no dia 29/10/2009, sendo que o mesmo não encontra-se mais disponível no web-site Youtube.

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