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Casa na Vila Romana [MMBB]


         "Quanto mais complicado o terreno, mais interessante e bonita pode ser a solução".

         Essa frase ecoa nas salas de aula do curso de Arquitetura, na tentativa de desfazer a intimidação frequente perante uma área de projeto. A palavra "pode", define escolha, partido, conceito, desejo. O terreno de esquina, com desnível de quase 10 metros no bairro de Vila Romana, em São Paulo, não é uma situação tão estranha. Nas cidades, principalmente as de terreno montanhoso, diversos são os lotes com situação similar. Não é difícil imaginar diferentes tipos de implantação de uma residência na área de pirambeira: 1- tirando totalmente a terra e fazendo um edifício encravado (alinhando com a cota mais baixa, com muros de divisa também servindo de arrimo); 2- adicionando terra (alinhando o edifício com a cota mais alta); 3- deixando o solo intocado e elevando a casa com pilotis.


         Talvez o escritório de arquitetura MMBB, responsável pelo projeto da futura residência em tão pronunciado terreno, tenha refletido sobre essas três hipóteses de trato da topografia, e mais algumas. A solução utilizada contempla as três hipóteses: a Casa na Vila Romana, concluída em 2006, é enterrada, alinhada e elevada.






         As três estratégias projetuais guardam formalmente a divisão do programa. Os clientes e futuros moradores, queriam uma casa e um estúdio resolvidos em um único lote, de maneira que trabalho e lar ocupassem o mesmo espaço. Porém, uma divisão entre ambos programas deveria existir, para não causar o embate entre ambos. Foram com tais premissas que o projeto se desenvolveu, formando dois blocos posicionados verticalmente. O mais baixo, semi-enterrado, servindo também como arrimo para a grande quantidade de terra periférica da parte mais alta do terreno, guarda o estúdio. O bloco mais alto, guarda a residência em si. E entre ambos, uma área de pilotis, livre, guarda um interstício necessário.


Corte longitudinal

         Alinhado com a parte mais alta do terreno, está o acesso, que leva diretamente ao intervalo horizontal entre os dois blocos. Nessa área, apenas quatro pilares apoiam a estrutura protendida com lajes "cogumelo", compartilhando o espaço com uma escada do tipo cascata que dá acesso às dois diferentes volumes.



Corte transversal


         A laje de piso da "praça" de acesso, também a cobertura do volume inferior, é estruturada por seu próprio fechamento/muro de arrimo. Esse bloco mais baixo tem a maioria de suas empenas cegas, com uma abertura zenital e grande porta que integra o ambiente de trabalho ao jardim.





Corte transversal

Planta do pavimento inferior

Planta do pavimento térreo

Planta do pavimento superior



         O bloco superior com suas empenas em balanço, livres de papel estrutural, possibilitam uma casa aberta: todas as 4 fachadas abusam da iluminação natural, com caixilhos em fita, ora completamente transparentes, ora protegidos com brises.


         Os acabamentos são os mais simples possíveis, sendo o concreto armado aparente o mais abrangente. A brutalidade do edifício pronuncia a gentileza dos espaços e o presente que são as vistas. A casa é leve, por meio de poucos pontos, seus habitantes flutuam junto às copas das árvores, que chegam a tocar sua superfície.


         Atrás de muros mais altos, a casa guarda ainda um quintal em sua cobertura. Ao invés de ocultar um telhado de telhas onduladas, como a maioria dos edifícios de São Paulo, as platibandas guardam com carinho a laje deck, espaço de lazer totalmente livre, onde a única sombra é da caixa d´água, apoiada sobre um dos pilares. Se a solução da caixa d´água não traz novidades, ainda não deixa de ser elegante.


Planta da cobertura

Corte transversal


         É de beleza singular quando um edifício, em sua simplicidade, acomoda-se no solo e enclausura espaços, justamente sem enclausurar, dando a eles intervalos, texturas e luz. Por mais que a "caixa brutalista paulista" seja um estereótipo, e tenha sido abraçada como um estilo pelo imortal ultraecletismo, nessa Casa em Vila Romana ganha pensamento projetual pelas mãos do MMBB. O concreto aparente aqui, é o mesmo de Artigas.



Para mais informações e fotos, tiradas por Nelson Kon, acesse o site do escritório MMBB, clicando aqui.
Para visualizar o projeto executivo da casa, não deixe de ler o artigo da revista eletrônica MDC, clicando aqui.

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