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O fenômeno do sucesso e suas sequelas


         Por que nós, estudantes e profissionais, desenvolvemos a mania de defender nossos arquitetos preferidos como divindades?

         Incapazes de errar, incapazes de realizar obras que ignorem completamente o entorno, os usos e características básicas de seu lugar. Qual é o grande problema em criticar, no sentido verdadeiro da palavra, obras "consagradas" de arquitetura? Me parece que o público chamado de "leigo", o faz de maneira muito mais tranquila, e por diversas vezes ouvi profissionais de outras áreas "destruindo" criticamente a obra de grandes arquitetos com justificativas muito mais convincentes do que os verbetes repetitivos e manjados escritos em revistas especializadas ou atas de júris.
         Por outro lado, até que ponto um indivíduo está apto para criticar uma arquitetura? Em um mundo onde encontrar fotografias, vídeos e desenhos de um projeto pode ser feito em segundos, e onde diariamente recebemos newsletters em nossas caixas de e-mail com dezenas de imagens representando obras, será que realmente conhecemos uma arquitetura, sem nunca ter presenciado ao vivo seus defeitos e qualidades?
         Será que isso importa?

         Por que nós estudantes e profissionais, desenvolvemos a mania de pensar que os arquitetos famosos são, de alguma maneira, diferentes de nós?

         O sucesso, tal qual um projeto, é fruto de diversos agentes que configuram um fato, um fenômeno (praticamente um fenômeno social, como dizia Durkheim). Se fossemos investigar as variáveis que levaram os grandes arquitetos ao sucesso, poderíamos verificar que sua possível genialidade estaria atrás de uma longa fila de acontecimentos.
         Afirmamos sem medo caros colegas: não é por que a obra de vocês não aparece na mídia especializada, que ela é ruim. Não é por que vocês não se formaram em determinada universidade, que o sucesso é impossível. Não existe esse brilhantismo quase religioso atribuído a determinadas figuras. Existem obras boas, que são adequadas ao contexto que as criaram, e existem obras ruins, independente de quem as projetou.
         Quem é famoso, o arquiteto ou sua obra? Após as décadas, quem fica para contar a história?


Fotos:
> Reforma das empenas da FAUUSP [Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi - 1969] (Fernando Gobbo, Agosto 2013).
> Residência Liliana Marsicano [Joaquim Guedes e Liliana Marsicano - 1968] (pertencente ao acervo da família Guedes, vista aqui).

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