De tanto andar em meio ao perpétuo canteiro de obras, nos distraímos com tantos cheios.
E quando percebe-se o vazio, nada mais do que aquilo que basta e cuida para que a morada tenha sua física anulada, percebe-se tanta coisa.
A maioria das construções do mercado imobiliário tentam, a todo o custo, destacarem-se umas das outras. A mais alta, a mais "chique", a mais retrô, cores diferentes, vidro espelhados.
E no entanto, ao menos por um período, todas elas são iguais. Guardam dentro de si, esperando para serem redescobertas um dia, as entranhas gêmeas. Concreto, metal e cerâmica aguardam aprisionadas pelo mesmo revestimento que aprisiona o olhar.
O metal dobrado, a viga flambada, o tijolo assentado aguardam o porvir. Os esforços ficam ocultos, as longas horas e dias gastos estão enclausurados, a memória adormecida. Os operários, verdadeiros construtores, são alienados.
Quão mais bonito é quando o olhar enxerga e atravessa o edifício, perpassa mesmo paredes sólidas, que em sua transparência fenomenal, permitem a leitura do fazer. As entranhas se fazem coração, sentimento, livre das amarras de estereótipos e estilos, um artefato que compartilha uma história com seu lugar: a história de sua construção.
Imaginem se a cidade, essa sim arquitetura eterna, tivesse seus vazios ocultos, e fossemos todos aprisionados em alamedas de cerâmica, isopor e tinta bege?
Ao menos assim veríamos os detalhes construtivos ocultos, e sofreríamos todos as mesmas mazelas e dificuldades de quem erige e coloca sentimentos que nunca poderão ser visualizados.
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Imagens:
1 - Residência na Granja Viana, 2008 [23 Sul Arquitetura]
2, 3, 4 - Fotos dos autores
5 - Casa em Tibau, 2011 [Yuri Vital Arquiteto]
6 - Residência Albertina Pederneiras, 1964 [Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro] http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/375
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